segunda-feira, 9 de março de 2009

Quem quer ser politicamente correto?

Um final de semana com alta carga cultural é muito importante. Ler Watchmen, tocar músicas que marcaram gerações, escutar bandas novas, tudo tem seu valor. Contudo os grandes intelectuais que admiro alertavam sobre o risco de muito conhecer sem refletir sobre. E duas coisas me fizeram pensar bastante. Uma foi o musical: “Essa é a nossa canção” e a outra foi “Quem quer ser um milionário?”.

Entre a peça da Broadway, escrita na década de 70, e o filme do ano passado, existem grandes diferenças. Tudo é diferente, menos uma coisa: o final óbvio. O fato do filme terminar de maneira previsível não o descaracteriza como bom filme, o que de fato é, mas poderia ser evitado. A moral de “tudo que acontece tem um motivo” é bem comum e insossa. Se ela fosse melhor camuflada, o que de jeito nenhum deturparia o sentido na produção indiana, a minha sensação pós-sessão de cinema seria a mais pura estesia, porém a cena final do beijo e a dança non-sense, que parecia ter sido tirada do musical, quebraram todo aquele tesão pelo filme antes sentido e isso não foi algo legal.

Ao falar em merecimento, outra coisa que esse filme não merecia eram os Oscars de melhor filme e melhor canção original. Ambos deviam ser destinados a Wall-E, que, ao meu ver, merecia também uma insólita indicação a “melhor ator”. Esse filme elevou a animação 3D a um grau artístico que eu nunca consegui imaginar. A primeira parte, com somente dois atores em cena (Wall-E e a barata), deixou muitas pessoas maravilhadas e Will Smith e seu “Eu sou a Lenda” com inveja. Com um trabalho sonoro genial, Wall-E nos deixa imersos em um universo novo e é um grande filme, para mim, o melhor do ano passado.

A grande questão relativa a esses dois filmes é a canção original. Wall-E tem uma maravilhosa música feita pelo Peter Gabriel que, apesar de não ter muito destaque, é realmente muito boa. Nenhuma música que ouvi durante “Quem quer ser um milionário?” superou. Todas eram músicas eletrônicas usando a estrutura melódica da música indiana. Interessante mistura, mas já conhecida faz tempo pelo ocidente e já é sacaneada pelo Youtube. Aliás, esse Oscar injustiçou muito também Batman, que deveria ser indicado como melhor filme e melhor diretor.

O que Wall-E e Batman tem em comum? Ambos são excelentes, mas são blockbusters. Percebi nesse Oscar uma grande valorização dos filmes mais intelectualizados e independentes. Pode ser só impressão minha, mas será que a tendência do “politicamente correto” chegou a Hollywood? O Pipocão tem seu valor e esse não é pequeno (Senhor dos Anéis que o diga). Só porque o filme foi gravado na Índia ele tem certo bônus? É um bom filme, mas que peca pelo começo meio panfletário e pelo romance e pelo final mais cliché que um da década de 70. Quem o considera muito inovador na narrativa, sugiro que veja Cidadão Kane.

Contudo, acho bom para chamar atenção para os filmes feitos ao redor do mundo, porém se os filmes chatos e mal-feitos de Bollywood invadirem o ocidente, convoco todos para a época do racional e politicamente incorreto, e apliquemos de forma ortodoxa o relativismo cultural: “Cultura é muito bom e deve ser sempre respeitada. Vamos respeitar de longe, pois ninguém me castra não!!!”. Aliás, continuo achando que apedrejamentos, cortar o clitóris e cinema iraniano são as maiores provas que relativismo cultural nem sempre vale, mas, antes que eu seja atacado por marxistas enfurecidos, me retiro.

5 comentários:

fabiana disse...

Concordo plenamente: tem muito modismo por aí. Muito filme blockbuster também é bom, e sim, eu adorei o último Batman! (pelo menos o Heath Ledger levou o Oscar; ele estava absoluto).
Por sinal, vi Watchman - que soco no estômago! Muito bom, apesar de MUITO violento e cru.
Vale à pena dar uma olhada.

Kêco disse...

A intenção do Oscar foi puramente econômica. "Época de crise,recessão e o K7, vamos valorizar o baixo custo."
Sim, a música do Peter Gabriel é muito superior, e a do Bruce Springsteen, pro "The Wrestler", que ganhou o Golden Globe, foi injustamente ignorada.

Abs,
Kêco

Thiago Cianci Antunes disse...

Ainda que a impressão de a primeira parte do filme ter sido feita para chamar a atenção para os pobrezinhos indianos seja grande, ao analisar o filme no geral, dá pra perceber que as coisas que acontecem nesta primeira parte eram necessárias para a história. Não foram jogadas apenas com a intenção de ser politicamente correto... e por mais que eu não tenha visto Wall-E, e não tenha achado a trilha sonora de "Quem quer ser um milionário" lá essas coisas quando escutei, é inegável o quão bem ela soa no ambiente do filme, enquanto você está assistindo.

Não sei... nunca concordei muito com os resultados do prêmio Oscar, mas não achei os desse ano muito absurdos.

Anônimo disse...

Ahahahahaha!

Finalmente arranjei um tempinho pra dar uma olhada no famigerado blog do melhor melhor (e único) baixista do colégio! Me amarrei nessa tua foto, mas ela não chega aos pés desse papagaio aí de baixo...
Quanto ao post, discordo sobre o que disseste sobre o WALL-E.Achei o início chato pra c@ralho, e a amizade com a baratinha me deu nos nervos.A música do PG também não é lá essas coisas, é muito Phill Collins pro meu gosto.
Não acredito que os filmes de Bollywood invadam o ocidente, acho que com o sucesso de "Slumdog Millionaire", os ianques farão inúmeras refilmagens, assim como ocorreu com os filmes de terror orientais.Afinal, eles parecem ser mesmo incapazes de ler legendas.

De resto, você foi muito preciso, inclusive quanto ao clitóris...

ASS. O muleque da metralha

Camilla disse...

Achei esse filme do caralho.
O único Oscar que não poderiam ter dado pra outro filme é o de Melhor Roteiro. Maravilhoso!

Beijos